Idalécio 2024-03-01T15:35:23+00:00
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IDALÉCIO

Idalécio é um artista outsider, auto-didacta, nascido em 1952, numa aldeia do interior do distrito de Aveiro. Órfão de pai, cresceu na casa rural de um tio, onde se fez homem e metalúrgico. Foi aí que, anos mais tarde, começou secretamente a pintar e a esculpir de forma espontânea e intuitiva, sem pretensões artísticas nem interesse em revelar o acervo que foi acumulando ao longo da vida. A produção era tão prolífica, que os compartimentos da casa acabaram completamente preenchidos pelas suas insólitas criações. Quem lá entrasse, deparava-se com um conjunto de galerias surrealistas aparentemente caóticas, mas que eram resultado de um processo entrópico obsessiva e meticulosamente controlado pelo artista.
Em Abril de 2016, após vários meses de contactos, é inaugurada a exposição “D’Idalécio… Todos Temos um Pouco” na galeria Cruzes Canhoto, no Porto, mostrando-se pela primeira vez ao público as esculturas e as pinturas deste artista invulgar. Apesar do enorme sucesso da exposição, Idalécio preferiu manter-se no anonimato e continuar na fábrica onde sempre trabalhou, criando apenas nos tempos livres. Só em Setembro de 2017, aquando da sua segunda mostra na Cruzes Canhoto, “Metalúrgico Sexagenário”, ele aceitou revelar-se ao público e à imprensa.

A dualidade que caracteriza ainda hoje a sua vida, com dois mundos social e culturalmente bem vincados, de confronto entre uma vivência adulta materialmente burguesa e uma outra de origem rural e humilde, é resolvida através da expressão artística, sendo isso claramente perceptível no conjunto da sua obra.
As suas telas, apesar de marcadas por figurações exuberantes e maximalistas, são definidas por traços seguros, e por uma combinação de cores irrepreensível, qualquer que seja a paleta escolhida, numa construção harmoniosa e elegante. Por outro lado, as esculturas, sobretudo as mais recentes, são quase todas monocromáticas e construídas com pedaços toscos de madeira, usando apenas como ferramentas um machado, uma serra de lenhador, um martelo e tinta spray, o que lhes confere um aspecto bruto, primitivo e minimal.

Como todos os colectores compulsivos, guarda em caixas enormes centenas de objectos inúteis de todo o tipo que aproveita para aplicar nas esculturas que constrói. O mesmo espírito de não-desperdício é usado nas pinturas, quando no final de cada sessão utiliza o resto das tintas de óleo ou de acrílico para experimentar combinações de cores nos calendários antigos ou nas folhas de jornal que usa para proteger o espaço de trabalho.

Artista pop e populista, surreal e tropicalista, Idalécio inspira-se fortemente na arte popular portuguesa, de que é apreciável conhecedor, sendo um habitual frequentador das festas, romarias e feiras de artesanato que se realizam por todo o país. Ali, recupera alguns dos elementos e motivos do imaginário rural, em que o sagrado e o profano seguem quase sempre a par, para desferir duras e sarcásticas críticas aos poderes instituídos, em especial aos herdados da cultura judaico-cristã. De forma inusitada, conjuga a linguagem dos mestres artesãos portugueses com algumas das expressões da arte tribal africana, de que é igualmente coleccionador, particularmente das chamadas ‘power figures’, a que não será alheio o facto de ter cumprido o serviço militar no interior de Moçambique no início dos anos 70.

Se no início da sua actividade criativa ainda eram evidentes algumas incoerências estilísticas, na produção mais recente é perceptível uma maior coesão de estilos, formas e temas, resultado de um processo evolutivo bem sucedido na direcção de uma linguagem própria absolutamente singular. É o que se pode perceber na sua mais recente exposição, “Santos, Diabos e Outras Bestas” (Janeiro, 2020), onde Idalécio, já sem ter nada a provar, escusa-se a evidenciar quaisquer tipo de exibicionismos, reduzindo as formas e as cores ao essencial, muitas vezes monocromáticas. O artista, a brincar, chama-lhe a sua fase Zen.

“Pretensões a ser artista… não tenho, nem isso me interessa.”

Todas as obras expostas no espaço da Cruzes Canhoto estão agora disponíveis para aquisição online.
Para o fazer, entre em contacto directo com a galeria.

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