TRAVESSOS 2025-12-18T23:38:40+00:00
PT | EN
TRAVESSOS

André da Loba

Os Travessos habitam, de forma quase invisível, as casas do Porto desde que estas foram construídas. Os Mayas chamavam-lhes Aluxo’ob, enquanto os Astecas os denominavam de Chanekeh. Por sua vez, os Japoneses designavam-nos de Yōkai, e os Zulus de Abatwa. Para os Escoceses eram Brownies, junto dos Árabes eram Génios, na Grécia eram Daimon e em Roma eram Lares. O André da Loba apelida-os de Travessos.
Estes seres, enquanto guardiões da memória, protegem a história e preservam a identidade das gentes da Invicta. Até recentemente, a cidade mantivera-se indiferente às convulsões provocadas pela maior epidemia de que os humanos têm memória — o Turismo. Só que, aquilo que os menos íntegros consideravam como inevitável, acabou por acontecer: os Turistas invadiram o Porto e de imediato, como térmitas vorazes, deram início ao desmantelamento das estruturas da cidade. O ataque não se ficou pelas habitações — estendeu-se igualmente aos cafés, confeitarias, armazéns e lojas tradicionais. O duradouro deu lugar ao instantâneo, o resistente ao descartável, o permanente ao efémero e o pitoresco ao genérico.
Com a destruição do seu habitat natural, os Travessos, tal como os Tripeiros, foram progressivamente desalojados e viram a sua existência colocada em risco. Sem sustento, nem nada que sustentar, partiram desamparados para outros recantos ou foram remetidos para locais recônditos do burgo.
Nesta exposição, André da Loba pretende devolver à luz — e às sombras — estes seres, através do respigamento de materiais encontrados nos escombros das demolições da cidade do Porto.
Cada Travesso aqui exposto renasce de um pedaço de soalho gasto, uma porta escancarada, uma prateleira partida, um rodapé coçado, um tabique encostado, um baú esquecido, um móvel abandonado.
A intenção final é de os realojar, dando-lhes um novo lar onde possam voltar a dar vida ao espaço envolvente e às pessoas que o habitam. Como um animal amigo ou um amuleto de boa fortuna, o Travesso dá-nos o alento que nos resgata da miséria e coloca ordem naquele lugar caótico que é nosso coração.
Uma casa com um Travesso está protegida contra todos os males.

Poeta relutante, André da Loba, nasceu em Aveiro, há muitos, muitos anos. Passou a infância a brincar na floresta ao lado de casa, onde aprendeu a juntar as cores ao som e ao tempo. Também aprendeu a voar.
É considerado como um dos melhores ilustradores da actualidade, tendo uma vasta história de colaboração com as mais prestigiadas editoras e meios de comunicação, a nível nacional e internacional.
Em 2025, foi o vencedor da 29ª edição do Prémio Nacional de Ilustração.
O seu trabalho é uma combinação de curiosidade, experiência, conhecimento e espontaneidade. Tudo usado para convidar e desafiar o público a repensar o mundo.
Recentemente, tem-se focado no recorte de papel, nas técnicas de impressão manual e na escultura em madeira, sempre à procura do belo no erro.
Vive no Porto, numa casa velha, com vista para o Douro, onde é secretamente feliz.


Título:
TRAVESSOS
André da Loba

Data:
15 Novembro 2025 > 15 Março 2026
Local:
Galeria Cruzes Canhoto, Rua Miguel Bombarda, 452, Porto
Curadoria:
Cruzes Canhoto
Textos:
Tiago Coen / Cruzes Canhoto
Fotografias:
JUNO / Cruzes Canhoto
Design:
Pedro Soares / Cruzes Canhoto

Todas as obras expostas no espaço da Cruzes Canhoto estão agora disponíveis para aquisição online.
Para o fazer, entre em contacto directo com a galeria.