Diabos, diabretes, mafarricos e outras criaturas diabólicas são figuras omnipresentes na cultura popular portuguesa, especialmente no espaço minhoto e transmontano, onde o diabo aparece assiduamente no quotidiano das pessoas, assumindo as mais diversas vestes.
Nesta exposição na galeria Cruzes Canhoto, pretende-se dar a ver uma parte desse sub-mundo, apresentando-o sob variadas formas de expressão plástica a partir do olhar de múltiplos artistas.
Com origem num caldeirão de tenebrosos seres pré-cristãos e criaturas bíblicas sobrenaturais, a presença do diabo é transversal no universo popular de vários povos e culturas. No caso português, porém, como sublinha o antropólogo Anthony Shelton, estamos longe de uma interpretação bíblica do diabo enquanto pura encarnação do mal – o que essa figura condensa em si é mais um conjunto de comportamentos licenciosos e subversivos, manifestos em condutas sexuais debochadas e na satirização maliciosa dos meios políticos e sociais. A travessura, a malandragem e a perversão são aqui representadas, mas sem qualquer carácter de culto satânico.

Para além das já conhecidas figurações da arte popular de Barcelos e de Trás-Os- Montes, apresenta-se nesta exposição um conjunto de desenhos, pinturas e esculturas de vários artistas, populares e outsiders, que permitem verificar a diversidade de interpretações da figura do diabo e suas derivações.