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GALERIA
Dos diabos de Rosa Ramalho (Barcelos, Portugal) até às Vivian Girls de Henry Darger (Chicago, EUA), há todo um mundo marginal, pleno de magia, mito e fantasia, à espera de ser descoberto.
A Cruzes Canhoto propõe-se embarcar na aventura de desvendar esse universo fantástico, de cores e formas fora do comum, com origem nas entranhas mais profundas e remotas da natureza humana, de uma forma apaixonada e sensitiva, indiferente às convenções dos mercados da arte.
As peças exibidas na galeria são criadas por pessoas com universos mentais absolutamente singulares, na sua maioria autodidactas visionários que se exprimem de forma intuitiva, sem quaisquer pretensões comerciais ou ambições de celebridade.
Única no seu género na Península Ibérica, reúne no mesmo espaço obras de arte bruta, primitiva e popular.
ARTE BRUTA
Art Brut, um termo cunhado em 1945 pelo artista plástico francês Jean Dubuffet, define a arte dos inadaptados, dos loucos, dos visionários, dos médiuns, dos alienados em geral. Confunde-se com outras expressões marginais, como a Outsider Art, a Singular Art ou a Folk Art, sendo em muitos casos difícil definir as fronteiras de cada um dos géneros.
Afirma-se pela rejeição da arte dominante, da qual se demarca essencialmente na questão dos pressupostos comerciais do acto criativo. As obras criadas pelos artistas deste universo surgem espontaneamente, como um grito interior que urge em fazer-se ouvir, brotando das suas vísceras, muitas vezes como meio de terapia para os seus desequilíbrios mentais, sem quaisquer condicionamentos académicos ou formatações prévias.
Outrora ignorada, é hoje considerada por muitos como a mais genuína e vital das artes, não havendo colecção de nenhum museu de arte moderna de uma grande capital que se possa considerar totalmente completa se não contemplar pelo menos um par de obras deste género. Assim acontece no MoMa (Nova Iorque), na Tate Modern (Londres) e no Centre Pompidou (Paris).
ARTE PRIMITIVA
É também conhecida como Arte Tribal, Art Premier, Arte Etnográfica ou Arte não-Ocidental. Na sua forma mais básica e menos contaminada, é a expressão artística que mais se aproxima da essência humana, impenetrável ao discurso racional e acessível somente pela via do sensível.
Caracteriza-se pelo anonimato em termos de autoria, sacrificando o artista a atenção individual em prol da comunidade a que pertence, num processo continuado de construção e afirmação de uma identidade através da arte que é criada. Nesta, destacam-se os elementos da tradição popular de uma certa sociedade, organizada normalmente num modelo tribal, estando, por isso, quase sempre ligada aos domínios do ritual, da religião e da magia. De uma forma geral, esses artistas são autodidactas e desenvolvem eles mesmos as ferramentas e as técnicas que utilizam no seu trabalho. São consideradas artes primitivas as artes pré-colombianas (Maia, Olmeca), a arte africana tradicional, a arte inuit (povos esquimós), a arte ameríndia (povos autóctones da América do Norte), a arte asiática tradicional e a arte da Oceânia (Melanésia, Micronésia, Papuásia), em especial a dos aborígenes australianos. No início do séc. XX, com o advento do movimento modernista, as criações primitivas passaram a fazer parte do número de objectos artísticos coleccionáveis, sujeitos a sistematização, a contemplação e a exibição, gerando mesmo um mercado de arte e funcionando como fonte de renovação para os vanguardistas da época.
ARTE POPULAR
Apesar da inevitável contaminação de culturas, é entendida como representação individualizada de uma colectividade ou de um grupo determinado – social, económico ou cultural. Da mesma forma que na arte dita primitiva, as criações são normalmente produzidas por auto-didactas, sem qualquer formação académica, e são transmitidas de geração em geração.
Opõe-se à arte erudita, pelo seu fácil acesso e baixo custo, mas também pelos temas abordados, que têm quase sempre como referência o imaginário popular, onde o sagrado e o profano estão em permanente confronto.
Da criação artística ao artesanato, a distância é curta e nem sempre perceptível. É a marca de identidade e a passagem do tempo que distinguem o artista popular do artesão. Só é considerado mestre aquele que é assim aceite tanto pelos críticos de arte, quanto pelos seus pares.